sábado, 10 de maio de 2008

Mais uma Dose



“Há algo pra dizer sobre o copo meio cheio
Sobre saber quando dizer quando
Eu acho que é uma linha pontilhada
Um barômetro de necessidade e desejo
Depende exclusivamente de cada individuo
e depende em que é servido.
Algumas vezes tudo o que queremos é provar
Outras vezes não há aquela coisa de "suficiente"
O copo não tem fundo.
e tudo que queremos...
é ainda mais.”

(Meredith Grey – Grey’s Anatomy; Season 2; Episode 2)



Havia muito barulho na mesa, todos conversavam, riam e bebiam à vontade. Os copos se esvaziavam e se enchiam rapidamente, como se não houvesse todo um processo por traz disso. E realmente nunca houve. Esvaziar o copo é muito fácil!

Eu estava ali, em meio ao furacão, tentando descobrir quando é que ele iria me engolir. Olhava para o meu copo e parecia ler minha vida. Há algo sobre os copos... Sobre as bebidas e os processos... Eu ali, em meio ao furacão, tentava descobrir se o copo estava meio cheio ou meio vazio. O copo estava pela metade, disso não se podia duvidar.

Se o copo estivesse meio cheio, eu devia beber tudo de uma vez e acabar com esse excesso que me faltava. Esvaziar o copo de uma vez, antes que a metade cheia me enchesse por completo.

Mas se o copo estivesse meio vazio... Talvez eu devesse beber tudo de uma vez e acabar com essa falta pela metade. Esvaziar o copo... Pra não ter que conviver com partes de um todo, antes que a metade vazia me fizesse perceber que o copo já estava vazio.

Eu ali, perdida em meio as minhas divagações sobre o inteiramente vazio, o vazio pela metade, o cheio de vazio ou de metade... E os copos se esvaziando e se enchendo...

- Laís????

- anm?

- E então? Posso te servir?

Ele estava ali, parado, enquanto eu olhava meu copo meio alguma coisa e pensava se devia aceitar ou não. Ele era bonito, atencioso... O copo era meio vazio, meio cheio...

- Acho que por enquanto não... Você entende né?

Olhei em seus olhos e ele me sorriu, como se soubesse de todas as minhas dúvidas e que eram todas tolas. Como se soubesse que no fundo do copo, eu não sou metade boba, sou boba em minhas metades, nas metades dos inteiros que eu sinto. E realmente ele sabia!

Há uma grande verdade sobre o copo pela metade: ele não está completo. Na verdade, não interessa se o copo está meio cheio ou meio vazio. O que importa é que não é o suficiente. Tem algo sobrando, ou muito faltando, mas, simplesmente, não é satisfatório! Talvez seja melhor esvaziar o copo antes de enchê-lo com outra bebida, talvez seja melhor deixá-lo inteiramente vazio...

O copo pela metade não é o suficiente. Nunca é o suficiente! Porque sempre queremos um copo transbordando... de alguma coisa. Queremos sempre mais uma dose... de vinho, de paixão, de vida...

Se o copo está meio cheio ou meio vazio? Está totalmente vazio! Porque beber em doses homeopáticas não funciona! Não é o suficiente! E essa é a única verdade sobre os copos, as metades e os desejos.

“Mais uma dose?
É claro que eu to afim!”


(Laís Mendes, 10 de maio de 2008)






*Ao som de Daniel Powter
*O texto é apenas uma ilustração da realidade, mas não quer dizer que eu não faça isso! ^^