quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A propria cegueira

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Eu sei... É cruel negar ajuda a um cego. Mas que se há de fazer? Arriscar-se a ficar cego também? Viver um pouco mais do inferno, do caos e da podridão do mundo? Mendigar amor, respeito e bom senso daqueles que já vivem como animais? Que se há de fazer, meu Deus? Ser obrigado a prostituir-se por um pouco mais de qualquer coisa? Renunciar a princípios, orgulho e amor próprios, renunciar aos sonhos...? Eu sei... Essa é uma cegueira temporária pela qual estou passando, mas ainda assim recuso-me ao risco de ficar cega para sempre.
Isso não é um Ensaio Sobre a Cegueira. É um protesto sobre a falta de esperanças! São 20 anos pra mim. 20 anos... São palavras sem cor e sem brilho. Palavras sem vida. São lágrimas choradas, gritadas e sofridas. É o travesseiro me sufocando por 20 anos de noites tempestuosas sem saber como amanhecer. Se estaria cega. Se enxergaria mais e melhor. Se conseguiria suportar...
Há um pouco de esperança ainda? Não sei!... Eu simplesmente não sei! Não sei dizer se é o medo ou o ódio. Se é a mágoa ou a piedade. Se é fraqueza ou só torpor... Eu simplesmente não sei! E me sinto tudo num só segundo. Fraca, louca, cega e cruel... É o fim e o começo. São os mesmos dias agora e sempre. A mesma velha angústia. A mesma dor... É a mesma vida e a mesma morte, então, esperanças para que? Esperar que um dia todos acordemos, e, de repente, agora se enxerga? Essa cegueira sempre existiu. Enquanto eu existo, ao menos, ela existiu.
Dito isso, sinto-me no direito de não esperar mais nada. De não estender mais o braço para tentar levantar aqueles que preferem o chão. Sinto-me no direito de não chorar mais as lágrimas que já não me existem. No direito de não pedir mais amor. Nem, tampouco de desejá-lo. Sinto-me no direito de empunhar a tesoura afiada e matar a esperança infantil que só me fez sofrer. Durante a minha cegueira... A cegueira de toda uma vida na qual acreditei que é possível suportar tudo. Que é possível relevar, esquecer... perdoar. Durante a cegueira que me fazia chorar até dormir de cansaço e acordar num novo dia, numa nova vida, numa nova esfera...
Como se o mundo anterior jamais tivesse existido. Como se fosse um sonho... Ruim, mas um sonho, e nada mais. Pra ser sincera, ainda parece um sonho às vezes... E nada mais!