segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Confraternização de fim de ano!

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Havia um nó em minha garganta. Um daqueles sapos bem grandes e gordos, estacionado, bem ali, por onde passava o ar que eu respirava. Aquele silêncio interminável, típico de quem havia falado demais. Era preciso manter o silêncio, parar de respirar, segurar qualquer movimento que fizesse com que eu piscasse os olhos e expulsasse as teimosas gotas de cristal alojadas por ali. Por que diabos eu havia falado demais? Já havia sobrevivido tanto tempo sem colocar aquilo pra fora, poderia muito bem continuar sobrevivendo daquela maneira. Mas de repente, num impulso de revelar tudo, o passado invadia meu peito e fazia com que a angústia falasse por mim. Eu nunca gostei de parecer frágil, nem de falar de sentimentos, fazer confissões ou desabafos. A vida inteira foi “eu e eu mesma”, juntas. Eu por mim e por todo o resto, apenas. A única pessoa que sempre esteve ali, me apoiando, me ouvindo, se importando. A única pessoa que sempre esteve comigo: eu! Pode parecer egoísta ou insensato, mas não foi uma escolha pessoal. Na verdade, as coisas foram acontecendo em seu próprio ritmo, exatamente aquele que me colocava alheia a tudo. Aquelas velhas perguntas que já vinham acopladas com respostas prontas, sem que você pudesse escolher dizer a verdade, sem o menor interesse no que você pudesse dizer. E eu, simplesmente, me acostumei a aceitar as respostas prontas e calar minhas verdades. E agora eu tinha acabado de descarregar todo o ódio que me impedia de ser uma pessoa satisfeita. E eu sabia que jamais seria. A felicidade jamais existiria! Então eu simplesmente confessava que era fraca e covarde o bastante para viver uma vida de enganos. Todos os meus pequenos crimes estavam ali, vagando sobre nossas cabeças. O passado, mais uma vez, me atormentando, com todos os seus fantasmas e cheiros. Cheiro de mofo, cheiro de sangue, cheiro de sal. Aquela cor opaca e repugnante. E aquele gesto inevitável de olhar pela janela para fugir dos olhos que me fitavam sem entender o “eu-revolta” que acabara de se apresentar de forma estonteante e devastadora. Na verdade, é muito simples. Bastava entender que eu estava na esfera errada. Bastava aquele momento não ter existido. Eu continuava a ver luzes de natal voando pela janela. E sentindo aqueles olhos atordoados a me seguirem. Era mais fácil continuar sem mostrar meu abismo interior. A vontade era desaparecer, virar pó. E agora vejo que essa vontade não desapareceu, mas inundou-me e tomou conta de tudo. Porque os sapos se multiplicam e a lagoa se torna cheia. Por vezes, eu não sei o que faço comigo.

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